terça-feira, 4 de outubro de 2016

A tinta e o sangue vertem dos céus

A tinta e o sangue vertem dos céus,
Percorrem os veios da montanha
E surge ao mar a paz, a guerra,
O amor, o ódio que se estranha.
A fome toma os que servem de bandeja
Os grandiosos senhores desta terra
E o poeta busca a sua pena
Enquanto o soldado ergue a espada

Fortes os viris desdenhosos
Que pisam no chão de corpos vivos
Na superfície de tudo o que existe,
E bradam apelos festivos
À pouca erudição em riste,
Como um rebanho de ovelhas brancas
E o poeta busca a sua pena
Enquanto o soldado ergue a espada

E ficam-se os génios cantando
Odes podres à crueldade,
Sob o oceano explorado de pranto;
Lágrimas fortes, corpo brando
Jaz para toda a eternidade,
Detêm-se no alto visionando
E o poeta busca a sua pena
Enquanto o soldado ergue a espada

Deus banha-os de obscurantismo
E inteira-os de servidão,
Continuam de olhos fechados
Os tirânicos filhos de Adão,
Sob o jugo da vossa mão
Em vós próprios enclausurados
E o poeta busca a sua pena
Enquanto o soldado ergue a espada

Incipientes canibais tomam a terra
E marcha o exército chicoteado
Sob o empírico chão de pregos,
Onde a esperança é sonho alucinado,
A fraternidade é visão de cegos,
A evolução é contos de um alienado,
E o poeta busca a sua pena

Enquanto o soldado ergue a espada

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